Boticas reafirma que se opõe ao projeto da Savannah da mina de lítio do Barroso
"Nunca, e fique sublinhado, a Savannah Resources se sentou à mesa com o Município de Boticas para negociar o que quer que fosse. Nem royalties, nem qualquer outro tipo de contrapartida", segundo a autarquia.
A Câmara Municipal de Boticas, distrito de Vila Real, veio hoje a público reiterar a sua oposição à mina de lítio do Barroso, projeto que está a ser desenvolvido pela Savannah Resources.
“O Município de Boticas reitera a sua posição, manifestando-se contra o projeto de mineração e mantendo-se ao lado da população que contesta a exploração mineira, assumindo avançar e apoiar todas as iniciativas que tenham como objetivo travar a Mina do Barroso”, segundo o comunicado hoje divulgado pela autarquia do PSD.
A Câmara de Boticas “subordina esta posição não só por todas as questões de caráter ambiental e de saúde pública que a exploração mineira acarreta – e que são sobejamente conhecidas – mas também pela forma “pouco séria” e “pouco transparente” com que este processo sempre se desenvolveu, com a Savannah Resources a usar de um discurso e uma estratégia intimidatórios, ao mesmo tempo que anuncia o “paraíso” ao nível do desenvolvimento sócio-económico da região, apresentando-se como um “profeta salvador” capaz de resolver todos os problemas que afetam este território, ao criar uma espécie de “época dourada” para a economia local ao distribuir, qual Robin dos Bosques dos tempos modernos, “riqueza por toda a região””.
“Nunca, e fique sublinhado, a Savannah Resources se sentou à mesa com o Município de Boticas para negociar o que quer que fosse. Nem royalties, nem qualquer outro tipo de contrapartida, muito menos nos valores apresentados pela empresa, que fala numa compensação anual ao Município de Boticas de 10 milhões de euros. Essas conversações/negociações nem sequer fariam sentido, tendo em conta a posição clara do Município contra esta exploração”, garante a autarquia.
E continua: “Podem prometer os milhões que entenderem, onde entenderem, podem falar dos empregos, das estradas, dos hospitais, das escolas, das creches, dos centros dia… num sei lá mais o que de contrapartidas. Mas isso não passa de promessas atiradas para o ar. Hoje são umas, amanhã juntam-se-lhes outras tantas. A realidade é que a única coisa que temos visto é destruição, devassa, falta de respeito pelo espaço público e privado e sobretudo muita arrogância”, pode-se ler.
“Podemos ser “pobres”, podemos ser um concelho pequeno no número de habitantes, podemos ter um Orçamento Municipal limitado, mas temos orgulho na gestão rigorosa, criteriosa e sem desperdício dos recursos financeiros, que faz de nós o 6º município do país com melhor eficiência financeira”, acrescenta.
Ação da Savannah disparou mais de 120% no espaço de um ano
A ação da Savannah disparou mais de 126% no espaço de um ano. Cada papel da mineira britânica vale agora 4,35 cêntimos de libra, tendo fechado a sessão de sexta-feira a subir 1,16%.
A cotada responsável pelo projeto de lítio em Boticas, Vila Real, vale agora mais de 93 milhões de libras em termos de capitalização bolsista em Londres.
O CEO da companhia acredita que existe “potencial significativo de valorização” da ação numa chamada com investidores.
O disparo nas ações teve lugar ao longo do ano de 2024, com a entrada de vários acionistas de referência, que serviram para estabilizar o coração acionista da companhia: os alemães da AMG, o empresário português Mário Ferreira e a Lusiaves, grupo fundado pelo empresário Avelino Gaspar.
“Recuperámos agora algum do valor. Estamos significativamente subavaliados face aos concorrentes globais que estão em posição de entregar projetos nos próximos 3 a 7 anos. Vamos fazer crescer o valor potencial do projeto; isto vai criar mais valor”, disse Emanuel Proença, tendo também pronunciado as palavras mágicas em qualquer empresa que queira ser levada a sério: “vamos criar mais valor para os nossos acionistas”.
O maior acionista da companhia são os alemães da AMG Lithium, empresa especializada na refinação de lítio, com quase 16% da companhia. Segue-se a Al Marjan com 13%, um fundo privado de investimento de Omã, acionista desde 2015 e que já chegou a ter 30% da companhia, fruto da sua anterior aposta em minas de cobre no país do Golfo Pérsico.
A AMG conta com uma refinaria de hidróxido de lítio perto de Berlim, com capacidade para processar 20 mil toneladas de hidróxido de lítio por ano: o suficiente para produzir 500 mil baterias para carros elétricos.
Na terceira posição surge Mário Ferreira com 10%, seguido dos também portugueses do Grupo Lusiaves com 7%, com os dois maiores acionistas portugueses a deterem já 17% da companhia. O grupo agroalimentar fundado por Avelino Mota Gaspar tem sede em Marinha das Ondas, Figueira da Foz.
Já Mário Ferreira, conhecido dos portugueses do programa ‘Shark Tank’, ganhou a alcunha de ‘tubarão do Douro’ à boleia dos cruzeiros fluviais no rio nortenho, mas já se expandiu para os mares de todo o mundo com a Mystic Cruises. É dono da TVI e dos cruzeiros Douro Azul. Em 2022, tornou-se no primeiro português a ir ao espaço numa viagem da Virgin Galactic. Agora, o empresário do Porto aposta na fileira do lítio e na transição energética.
Durante a apresentação aos investidores, destacou que a companhia é dona a 100% do projeto da mina do Barroso para explorar lítio em Boticas.
O projeto tem arranque marcado para 2027, altura em que está previsto “um aumento da procura no mercado global de lítio e no aumento devido à necessidade estratégica da União Europeia”.
Em termos de reservas, estão estimadas em 20,5 milhões de toneladas, com um teor de óxido de lítio (Li₂O) de 1,05%. A vida inicial do projeto está estimada em 14 anos.
O capex inicial está estimado em 280 milhões de dólares e o breakeven está previsto quando o concentrado de espumodena atingir os 600 dólares por tonelada (SC5.5).
A companhia também destaca que conta extrair 400 mil toneladas por ano de quartzo/feldspato “ideal para a indústria de cerâmica ibérica (tijolos, loiça de cozinha)”, estando também a ser estudada a possibilidade de fornecer a indústria vidreira, de cosméticos e de isolamento.
Em termos de financiamento, a empresa garante que está “bem financiada”, com 20 milhões de dólares e sem dívidas. A companhia também poderá vir a garantir um empréstimo de 270 milhões de dólares por parte do Governo alemão.
Por outro lado, está aberta a realizar mais parcerias, pois ainda tem de vender entre 50% a 75% da sua produção, com os restantes 25% a serem fornecidos ao seu acionista AMG.
Apesar do anunciado abrandamento do mercado dos carros elétricos, a verdade é que as vendas dispararam 25% em todo o mundo em 2024.
A procura de lítio deverá crescer 800% em todo o mundo até 2040, segundo as previsões da Agência Internacional de Energia (IEA).
Para este ano, a companhia espera concluir o licenciamento ambiental, os estudos técnicos e as avaliações das reservas, o que irá permitir atualizar os valores, preparar o financiamento e continuar à procura de parcerias estratégicas.
Em 2026, será tomada a decisão final de investimento e concluído o financiamento, com a confirmação dos parceiros estratégicos e arranque da construção.
Em 2027, a construção fica concluída e arranca a produção.
Sobre a possibilidade de a empresa ser alvo de uma oferta hostil, Emanuel Proença considera que estão “mais bem preparados para fazer face a este cenário do que há um ano”, destacando a estrutura acionista.
Sobre o empréstimo da Alemanha, disse que a empresa “continua em conversações com outros governos e outras entidades” públicas e privadas, incluindo bancos de investimento. Destacou também que vários governos europeus deverão desenvolver apoios, como Alemanha, França, Itália, Espanha ou Portugal, dada a importância das baterias.
No caso mais concreto: “estamos muito felizes de ter o apoio público do Estado alemão. Vamos continuar a trabalhar noutros apoios”.
Sobre parcerias, disse haver “espaço” para mais parceiros estratégicos. “A maior parte da produção ainda está disponível”, mas garante que não está com pressa.
O gestor também disse que um investidor institucional português tem vindo a reforçar a sua participação na empresa, mas que ainda não atingiu o valor mínimo de capital para ser comunicado ao mercado.
Emanuel Proença também espera que a Comissão Europeia considere este ano que o projeto seja considerado estratégico, o que irá permitir abrir mais portas, inclusive ao nível do financiamento, pois funciona como uma espécie de certificação de que o projeto é considerado essencial por Bruxelas.
Por sua vez, o chairman da empresa, Rick Anton, destacou que a companhia já faria “dinheiro aos preços atuais”, se estivesse já a extrair e a vender o lítio. “Somos rentáveis”, concluiu.