É preciso impedir narrativa de que STF piorou segurança, diz Gilmar

Ministro afirma que a Corte tem de buscar medidas para não ser acusada de "dificultar a ação da polícia" com a ADPF das Favelas

Fev 6, 2025 - 01:40
 0
É preciso impedir narrativa de que STF piorou segurança, diz Gilmar

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes disse nesta 4ª feira (5.fev.2025) que a Corte precisa buscar medidas práticas e efetivas para não correr o risco de ser acusada de “dificultar a ação da polícia”.

No julgamento da “ADPF das Favelas”, que debate violência policial em operações no Rio, o ministro afirmou que é preciso fazer esclarecimentos sobre o tema, porque “há uma narrativa de que as condições de segurança pública no território teriam sido agravadas em função da liminar”.

Formulário de cadastro
E-mail

“Hoje há uma narrativa de que as condições de segurança no Rio teriam sido agravadas em função da liminar. […] Há toda uma história, vamos colocar assim, em torno dessa temática e é preciso que nós estejamos bastante atentos às repercussões que isso tem e que refletem na própria imagem da Corte. Temos que buscar realmente fazer esses esclarecimentos”, declarou Gilmar Mendes.

O decano do STF ainda sugeriu envolver a PF (Polícia Federal) para enfrentar a temática, uma vez que “o quadro mostra que as autoridades locais não dispõem de condições para enfrentá-la”. Como exemplo, citou o auxílio que a corporação deu nas investigações conduzidas pelo Ministério da Justiça sobre a morte da vereadora Marielle Franco (1979 – 2018).

O tema é alvo de críticas de políticos do Rio. Durante discurso na Alerj (Assembleia Legislativo do Rio de Janeiro), o governador do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), afirmou que o julgamento retirava das comunidades “o direito à segurança pública”.

Já o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), afirmou em novembro de 2024 que a ação estava sendo “mal conduzida” e que tinha a impressão de que, desde que foi implementada, teve como efeito um “inibidor da ação policial, seja no campo real ou simbólico”.

O presidente do Supremo, ministro Roberto Barroso, concordou com Mendes e afirmou que tem a impressão de que há uma responsabilização do Supremo pelas declarações, mas que a política é o ofício de colocar a culpa nos outros.

“A impressão que dá ouvindo as declarações é que os problemas começaram depois da decisão do STF, quando eles já vêm de longe. E muitas vezes coloca-se no Supremo uma responsabilidade que evidentemente não decorreu da decisão, e se procura justificar um certo grau de inércia”, declarou

Ainda brincou que a política é o ofício de colocar a culpa nos outros, mas esclareceu que é preciso clareza de que a Corte não vai criminalizar a atividade policial.

JULGAMENTO

A análise da ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 635 foi retomada nesta 4ª feira (5.fev). Foi suspensa depois da leitura do voto do relator, o ministro Edson Fachin, e será retomada em cerca de 3 semanas, devido à complexidade do tema.

Fachin votou para homologar “parcialmente” o plano apresentado pelo governo do Rio de Janeiro para reduzir a letalidade policial em operações. A elaboração de uma proposta foi determinada em decisão anterior da Corte.

Em seu voto, Fachin entendeu que a proposta de Castro não atendeu a todos os pontos necessários para reduzir as mortes em operações e recomendou atenção a 3 questões:

  1. a uma meta de redução da letalidade policial;
  2. à adoção de uso diferenciado da força; e
  3. a uma assistência mental aos policiais que trabalham em operações.

O ministro entende que o plano deve ter ferramentas para o monitoramento e transparência dos dados sobre as mortes. Com seu voto, o plenário decidirá ainda se homologa o plano requerido ao Estado.