Hidroginástica à 4.ª Feira
Sete da manhã e estavam 6⁰ C. O calor é preguiçoso, mas era mesmo preciso levantar. Depois vem o cafezinho e o sumo de laranja, toma-se a medicação da manhã e vamos ler as gordas e debatê-las à luz das tendências de cada um, porque num casamento de quase 45 anos é da discussão que a faísca alimenta o fogo. - Então, vamos ou não? -Vamos... - Mas está frio. - Dentro de água não se sente. E fomos. Esperámos o autocarro da Carris Metropolitana e lá fomos, rumo ao CNA na Reboleira, para mais uma aula de hidroginástica. Como habitualmente saímos na paragem do Supermercado e atravessámos o pequeno ajardinado do outro lado da estrada, que desemboca na Rua Pedro Del Negro junto à igreja. Foi por essa altura que ouvimos o que pensamos serem uns foguetes meio murchos. Já junto ao estádio vimos um colega de piscina que estugava o passo e nos disse meio afogueado “Ouviram os tiros? É um tiroteio entre gangues rivais. Vou-me embora!” Ficámos sem saber o que fazer. Alguns populares corriam na direcção da entrada e só se ouvia ao longe o som de sirenes. “Olha, vamos lá. Estou a ver uma data de colegas de aula. Se não houver função, vamos embora.” Nada acontecia na entrada das piscinas. O que quer que estivesse a suceder, passava-se mais ao lado, junto à entrada do ginásio. Chegou uma ambulância. Não fui ver. Estava muita gente e só se ouviam gritos. Entrámos, mudámos de roupa e fizemos a aula tranquilamente. À saída, o circo estava instalado, com tudo o que era polícia, grupos de intervenção e comunicação social a incomodar toda a gente. Eu não vi nada. Não sei nada nem quero saber. Não posso comentar. Já em casa verificámos pelas notícias na tv que o dito “tiroteio entre gangues rivais” tinha sido uma cobarde execução de uma pessoa por outra ainda pior que se arvorou em juiz, júri e carrasco, num julgamento em que era tão ou mais culpado. Seja qual for a sua origem, para esta gente a lei não existe. A pessoas que viram e viveram aqueles momentos de pânico, na sua maioria seniores (para não entrar no idadismo), sentem que a instabilidade e a insegurança que se vêm instalando na vizinhança reduzem cada vez mais a pouca qualidade de vida de que ainda podem usufruir. Se há polícia, é porque há polícia. Se não há polícia, é porque não há, nem querem que haja. Para quê, se afinal os criminosos ministram a sua própria justiça sempre que lhes aprouver?
Sete da manhã e estavam 6⁰ C. O calor é preguiçoso, mas era mesmo preciso levantar. Depois vem o cafezinho e o sumo de laranja, toma-se a medicação da manhã e vamos ler as gordas e debatê-las à luz das tendências de cada um, porque num casamento de quase 45 anos é da discussão que a faísca alimenta o fogo.
- Então, vamos ou não? -Vamos... - Mas está frio. - Dentro de água não se sente.
E fomos. Esperámos o autocarro da Carris Metropolitana e lá fomos, rumo ao CNA na Reboleira, para mais uma aula de hidroginástica.
Como habitualmente saímos na paragem do Supermercado e atravessámos o pequeno ajardinado do outro lado da estrada, que desemboca na Rua Pedro Del Negro junto à igreja. Foi por essa altura que ouvimos o que pensamos serem uns foguetes meio murchos. Já junto ao estádio vimos um colega de piscina que estugava o passo e nos disse meio afogueado “Ouviram os tiros? É um tiroteio entre gangues rivais. Vou-me embora!”
Ficámos sem saber o que fazer. Alguns populares corriam na direcção da entrada e só se ouvia ao longe o som de sirenes. “Olha, vamos lá. Estou a ver uma data de colegas de aula. Se não houver função, vamos embora.”
Nada acontecia na entrada das piscinas. O que quer que estivesse a suceder, passava-se mais ao lado, junto à entrada do ginásio. Chegou uma ambulância. Não fui ver. Estava muita gente e só se ouviam gritos. Entrámos, mudámos de roupa e fizemos a aula tranquilamente.
À saída, o circo estava instalado, com tudo o que era polícia, grupos de intervenção e comunicação social a incomodar toda a gente. Eu não vi nada. Não sei nada nem quero saber. Não posso comentar.
Já em casa verificámos pelas notícias na tv que o dito “tiroteio entre gangues rivais” tinha sido uma cobarde execução de uma pessoa por outra ainda pior que se arvorou em juiz, júri e carrasco, num julgamento em que era tão ou mais culpado.
Seja qual for a sua origem, para esta gente a lei não existe. A pessoas que viram e viveram aqueles momentos de pânico, na sua maioria seniores (para não entrar no idadismo), sentem que a instabilidade e a insegurança que se vêm instalando na vizinhança reduzem cada vez mais a pouca qualidade de vida de que ainda podem usufruir.
Se há polícia, é porque há polícia. Se não há polícia, é porque não há, nem querem que haja. Para quê, se afinal os criminosos ministram a sua própria justiça sempre que lhes aprouver?