O Rol dos Espiões...
Antes de tudo é interessante notar que até simpatizantes socialistas encolhem os ombros e constatam agora que os governos de Costa foram ... tempo perdido. Um político hábil, um governante medíocre, nada mais do que isso. E, já agora, como todos que conhecem a Bélgica poderão confirmar, nenhum "prestígio" adveio àquele reino pelo simples facto de ter tido Charles Michel como presidente do Conselho Europeu - ao invés do saloio argumento aqui promotor da elevação do nosso antigo PM ao posto... A governação de Costa teve um objectivo inicial, trancar a débâcle do PS face ao desvario de Sócrates e à cumplicidade e/ou complacência de todo o "universo PS" diante daquilo, no que "coabitou" perfeitamente com o Presidente que nos coube, por decisão eleitoral. E foi sobrevivendo acobertado pelas políticas financeiras europeias. Durante esses anos Costa teve o condão de se rodear de gente dotada de tétrica incompetência, como tanto o exemplificaram os ministros - agora comentadores televisivos - Eduardo Cabrita e Azeredo Lopes (este ao menos reconheceu essa sua característica, invocando-a em tribunal para se safar das sequelas da sua pantomina ministerial). Mas para além de gente desse calibre Costa precisou de mais, de homens de mão. Soube fazê-lo, e os escândalos com dois dos seus chefes de gabinete teriam sido letais noutros países democráticos. Mas por cá ainda se lhe dá o estatuto de "prestigiante"... Talvez ainda mais agora, quando - sem pingo de pudor - se transgenderiza em "minoria étnica", mesmo se não especifica a "etnia" a que pertence. Enfim, esta situação de ter "à mão de semear" o rol de agentes de informação é tétrico. Claro que o rasteiro Escária será cutucado (mas nunca crucificado) por isso, e não se questionará a peculiar concepção de exercício de poder do seu antigo chefe, que convocava esta inaceitável situação. Mas esta é arrepiante. A situação - escandalosa - faz-me lembrar uma similar, acontecida em 1999, quando o abjecto "Independente" publicou o rol de espiões. Vivi-a em Maputo. E anos depois, tendo conhecido um simpático "ex-espião", até tive mais alguns detalhes do que acontecera, já invocados em registo cómico. Em 2006 escrevi um postal no ma-schamba sobre essa memória, que agora transcrevo. Mas antes recordo que em 2008 o então ministro Jaime Gama queria uma lei que impedisse este tipo de vazar de informações delicadas... Foi insuficiente, como se vê, mostrando não apenas a insuficiência do "Legislador" mas também como a lei é sempre insuficiente quando os incumbentes... não prestam. Ou são dados à imbecilidade, como a soberba de Augusto Santos Silva provocava, ao anunciar à imprensa em 2011 que Portugal ia instalar espiões no Líbano - e foi este tipo presidente da AR e sonhou-se PR!... Enfim, passa um quarto de século e as coisas não melhoram. Porquê? Porque são os mesmos tipos no poder. Temos mesmo de aprender com os moçambicanos, e clamar "Anamalala"! (Aqui deixo o postal com 19 anos sobre a devastação que o poder político faz dos serviços de informação) Liberdade de expressão? Em 1999 Veiga Simão, então ministro da Defesa de Portugal, velho homem de Estado e dignissimo universitário, espantou ao despachar a lista dos membros dos serviços de informação portugueses para uma Comissão Parlamentar. Logo alguém dessa comissão, muito provavelmente um deputado da República, remeteu a lista para os orgãos de comunicação social. Voz amiga telefonou-me de Portugal - qualquer leitor de Greene ou Le Carré imagina um adido cultural, mesmo se seu amigo próximo, algo associável a este tipo de coisas, mesmo que fosse eu completamente excêntrico a esse "ramo" - informando-me do que iria acontecer, na ironia do "amanhã a lista dos espiões sai no Independente, vê lá quem são os daí", deixando-me a balançar entre a gargalhada descrente e o nojo por portugueses que partilham, apesar de mim, o meu país. Logo lhe solicitei o envio daquela "bomba", e na alvorada seguinte recebi no gabinete um fax (era ainda o tempo dos faxes, imagine-se) com a cópia do jornal "Independente" onde constava uma lista de dezenas de indivíduos. Os nomes riscados, aparentemente a marcador (como se isso impedisse uma leitura por parte de profissionais interessados), mas os países de colocação bem à vista. Foi logo um reboliço telefónico, irónico e curioso, amigos cuscando se alguém sabia ou imaginava quem eram os dois agentes colocados em Moçambique, coisa que iria durar ainda uns dias. De imediato imaginei os dois homens, decerto avisados de véspera, que tudo aquilo foi inopinado, abandonando o país no mais madrugador avião para Joanesburgo ou, mais certo, cruzando nos primeiros alvores da matina a Namaacha, Ressano Garcia ou mesmo Machipanda, a inquietude dessa derradeira noite postados diante das fronteiras, avessas que são elas ao trânsito nocturno. E imaginei também, leituras velhas construindo imagens, homens e mulheres partindo em contido alvoroço de dezenas de países. E ainda o súbito encerramento de empresas nos arrabal
Antes de tudo é interessante notar que até simpatizantes socialistas encolhem os ombros e constatam agora que os governos de Costa foram ... tempo perdido. Um político hábil, um governante medíocre, nada mais do que isso. E, já agora, como todos que conhecem a Bélgica poderão confirmar, nenhum "prestígio" adveio àquele reino pelo simples facto de ter tido Charles Michel como presidente do Conselho Europeu - ao invés do saloio argumento aqui promotor da elevação do nosso antigo PM ao posto...
A governação de Costa teve um objectivo inicial, trancar a débâcle do PS face ao desvario de Sócrates e à cumplicidade e/ou complacência de todo o "universo PS" diante daquilo, no que "coabitou" perfeitamente com o Presidente que nos coube, por decisão eleitoral. E foi sobrevivendo acobertado pelas políticas financeiras europeias.
Durante esses anos Costa teve o condão de se rodear de gente dotada de tétrica incompetência, como tanto o exemplificaram os ministros - agora comentadores televisivos - Eduardo Cabrita e Azeredo Lopes (este ao menos reconheceu essa sua característica, invocando-a em tribunal para se safar das sequelas da sua pantomina ministerial). Mas para além de gente desse calibre Costa precisou de mais, de homens de mão. Soube fazê-lo, e os escândalos com dois dos seus chefes de gabinete teriam sido letais noutros países democráticos. Mas por cá ainda se lhe dá o estatuto de "prestigiante"... Talvez ainda mais agora, quando - sem pingo de pudor - se transgenderiza em "minoria étnica", mesmo se não especifica a "etnia" a que pertence.
Enfim, esta situação de ter "à mão de semear" o rol de agentes de informação é tétrico. Claro que o rasteiro Escária será cutucado (mas nunca crucificado) por isso, e não se questionará a peculiar concepção de exercício de poder do seu antigo chefe, que convocava esta inaceitável situação. Mas esta é arrepiante.
A situação - escandalosa - faz-me lembrar uma similar, acontecida em 1999, quando o abjecto "Independente" publicou o rol de espiões. Vivi-a em Maputo. E anos depois, tendo conhecido um simpático "ex-espião", até tive mais alguns detalhes do que acontecera, já invocados em registo cómico. Em 2006 escrevi um postal no ma-schamba sobre essa memória, que agora transcrevo. Mas antes recordo que em 2008 o então ministro Jaime Gama queria uma lei que impedisse este tipo de vazar de informações delicadas... Foi insuficiente, como se vê, mostrando não apenas a insuficiência do "Legislador" mas também como a lei é sempre insuficiente quando os incumbentes... não prestam. Ou são dados à imbecilidade, como a soberba de Augusto Santos Silva provocava, ao anunciar à imprensa em 2011 que Portugal ia instalar espiões no Líbano - e foi este tipo presidente da AR e sonhou-se PR!...
Enfim, passa um quarto de século e as coisas não melhoram. Porquê? Porque são os mesmos tipos no poder. Temos mesmo de aprender com os moçambicanos, e clamar "Anamalala"!
(Aqui deixo o postal com 19 anos sobre a devastação que o poder político faz dos serviços de informação)
Em 1999 Veiga Simão, então ministro da Defesa de Portugal, velho homem de Estado e dignissimo universitário, espantou ao despachar a lista dos membros dos serviços de informação portugueses para uma Comissão Parlamentar. Logo alguém dessa comissão, muito provavelmente um deputado da República, remeteu a lista para os orgãos de comunicação social.
Voz amiga telefonou-me de Portugal - qualquer leitor de Greene ou Le Carré imagina um adido cultural, mesmo se seu amigo próximo, algo associável a este tipo de coisas, mesmo que fosse eu completamente excêntrico a esse "ramo" - informando-me do que iria acontecer, na ironia do "amanhã a lista dos espiões sai no Independente, vê lá quem são os daí", deixando-me a balançar entre a gargalhada descrente e o nojo por portugueses que partilham, apesar de mim, o meu país. Logo lhe solicitei o envio daquela "bomba", e na alvorada seguinte recebi no gabinete um fax (era ainda o tempo dos faxes, imagine-se) com a cópia do jornal "Independente" onde constava uma lista de dezenas de indivíduos. Os nomes riscados, aparentemente a marcador (como se isso impedisse uma leitura por parte de profissionais interessados), mas os países de colocação bem à vista. Foi logo um reboliço telefónico, irónico e curioso, amigos cuscando se alguém sabia ou imaginava quem eram os dois agentes colocados em Moçambique, coisa que iria durar ainda uns dias. De imediato imaginei os dois homens, decerto avisados de véspera, que tudo aquilo foi inopinado, abandonando o país no mais madrugador avião para Joanesburgo ou, mais certo, cruzando nos primeiros alvores da matina a Namaacha, Ressano Garcia ou mesmo Machipanda, a inquietude dessa derradeira noite postados diante das fronteiras, avessas que são elas ao trânsito nocturno. E imaginei também, leituras velhas construindo imagens, homens e mulheres partindo em contido alvoroço de dezenas de países. E ainda o súbito encerramento de empresas nos arrabaldes lisboetas, filiais de seguradoras, consultoras, contabilidade, sei lá que tipo de coberturas escolhidas nesses sombrios Rios de Mouro ou Paios Pires tão a jeito para realidades feitas filmes, e o espanto de mulheres a dias, fornecedores e vizinhos com o vácuo então criado.
Veiga Simão retirou-se de uma longuissima, e até contraditória, vida de serviço público. E nada mais. Mudaram-se governos, a oposição subiu a poder e regressou a oposição, os das comissões subiram a observados e regressaram às comissões, os então observados tornaram-se observadores e de novo ascenderam a observados. Deputado algum, assessor algum, foi confrontado com a evidente traição ao país. Uma traição não metafórica. Linear. Pura e simples. A Assembleia da República, ao que agora se bloga prenhe de mictórios entupidos e de deputados que apenas do próprio mijo se lembram na hora da crítica fácil porque tão tardia, fez por esquecer, e esqueceu, o facto de acoitar traidores e nisso continuar impávida.
Os jornais publicaram, decerto em nome de um qualquer interesse público - confundindo, cientes disso, "público" com "do público" - e da sacrossanta liberdade de expressão. O povo nunca se lembrou disto, continua a votar nos traidores e nos que os protegem (alguém acredita que ninguém saiba quem denunciou os serviços de informação?). Contente, ulula julgando-se patriota, assim reconfortado, tv aos gritos no jogo da selecção, bandeira nacional numa mão, jornal Independente, o lixo traidor, na outra.
Anos passados ninguém liga, ninguém se lembra. A rapaziada de esquerda, relativizada, apupa a liberdade de expressão, dizendo-a máscara da falsidade ocidental ou até mesmo da inexistência ocidental, ainda que lhe reconheça, se cutucados, o mérito de denunciar a perfídia espionagem nacional, vista arma de exploração de inocentes alheios, esses inocentes porque alheios, porque diferentes, porque outros. A rapaziada menos relativista, reza loas à liberdade de expressão, coisa absoluta, tanto que até lhes dá para trair o país, nos intervalos de declarações pomposas sobre nação e quejandas. Coisa sem limites, dizem. E, escroques, realizam. No remanso do piadismo fácil e do "linkismo" ignorante. Punhetam, viris. Ambos os todos.
A propósito destas questões um amável comentador aqui afirmava há dias, "não compreendo o que dizes, mas entendo que te sintas longe": Longe, eu?! Foda-se..., eu estou aí. Isso é meu. Quem está longe, quem está bem longe, quem nem sequer merece isso, é essa corja. Corja não, que parece queiroziano. É essa vara, fica melhor. Estais longe.
(texto escrito em estado de liberdade de expressão relativa e sobriedade absoluta)