Opiniões e ajustes de contas

As referências desnecessárias e talvez vingativas a Sebastião Bugalho e a Fernando Medina no documento da Procuradoria-Geral da República sobre a Operação Tutti-Frutti são uma azeda salada-russa polvilhada de insinuações que não têm lugar numa democracia. São um abuso.

O Procurador-Geral da República (PGR) deixou a falha passar em claro, com evidentes danos políticos para as vítimas, embora, num passado recente, tenha sido muito lesto em desmentir procedimentos em curso e em confirmar outras investigações – a notícia da pen com a lista de espiões e etc. apanhada no cofre de Vítor Escária, apesar de muitos outros a terem, é apenas uma cortina de fumo. Entre uma PGR que manda injustificadamente abaixo um governo (a anterior) e outro (o atual), que revela critérios discutíveis e contestáveis… o que sobra é um mau serviço à justiça.

Sim, Amadeu Guerra é uma velha raposa da investigação. Teve sucessos e fracassos, o que é natural, e não pode ser estigmatizado por isso, mas como insider da Procuradoria traz com ele alguns maus fígados. Será uma lástima se ainda não for desta que temos um PGR capaz de gerir a instituição com equilíbrio, bom senso e equidistância.

Amadeu Guerra tem este perfil, falta, no entanto, fazer uso pleno destas qualidades. Será um ótimo sinal se não permitir aos procuradores todos os devaneios investigativos, como aconteceu no passado – a hierarquia impõe-se naturalmente se for bem justificada, sem que isso afete a autonomia funcional dos procuradores. Mas o PGR não pode ser inconsistente nas decisões que toma, isto é, não pode ficar a ideia de que decide quem proteger e quem expõe atira aos leões e à especulação. O trabalho é exigente, haverá sempre falhas, mas Amadeu Guerra tem de evitar erros básicos, apesar de ainda estar dentro da margem de tolerância.