Centeno prefere que Novobanco avance para IPO e “alerta” para riscos de fusão com CGD
Mário Centeno disse hoje à Reuters que "a Caixa é um banco muito importante, mas isso também traz responsabilidades. É uma decisão de negócio com consequências sistémicas que devem ser analisadas". Isto depois da notícia do Jornal Económico sobre a CGD estar a avaliar Novobanco com aval do Governo.
![Centeno prefere que Novobanco avance para IPO e “alerta” para riscos de fusão com CGD](https://jornaleconomico.sapo.pt/wp-content/uploads/2022/11/O2A7957-Centeno-scaled-e1669055221170.jpg)
Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, deu uma entrevista à Reuters a defender a prevista oferta pública inicial (IPO) do Novobanco dizendo que “seria benéfica para o setor bancário português”.
“Vejo isto (o IPO) como um bom resultado para o funcionamento e competitividade do setor bancário (português)”, disse Centeno à Reuters, em entrevista. O responsável pela supervisão da banca diz “seria muito bom ver o quarto maior banco de Portugal a abrir o capital porque apenas um banco no país, o Millennium BCP está cotado”.
O governador do Banco de Portugal apelou a uma abordagem cautelosa em relação a quaisquer aquisições ou consolidações futuras.
No que pode ser entendido como um recado ao Ministro das Finanças, Mário Centeno diz que “é preciso ter cautela quanto à venda do Novobanco ser usada para maior consolidação bancária em Portugal”.
Quanto ao eventual interesse da Caixa Geral de Depósitos em comprar o Novobanco noticiado pelo Jornal Económico, o governador diz que “a Caixa é um banco muito importante, mas isso também traz responsabilidades. É uma decisão de negócio com consequências sistémicas que devem ser analisadas”.
A gestão do Novobanco privilegia o IPO e tem o apoio do acionista nessa visão, mas também parece não descartar a venda direta. A Reuters cita fontes com conhecimento do assunto a dizerem que a Lone Star estava a considerar um IPO, bem como uma venda total do Novobanco, avaliado em cerca de 5 mil milhões de euros, o que poderá levar a uma fusão com outro banco que opera em Portugal.
Os cinco maiores bancos de Portugal já controlam mais de 80% dos ativos bancários do país, mas os analistas veem espaço para uma maior consolidação.
Na entrevista à Reuters, Mário Centeno diz que “a consolidação é um tema que o mercado tem novamente de ditar”. Mas pediu aos jogadores que sejam “cautelosos e cuidadosos” para “não colocarem em risco os bons resultados que o sistema financeiro português tem alcançado nos últimos anos em termos de capital, liquidez e relação custo-benefício”.
“Precisamos de compreender o que cada parte pode alcançar e qual é o objetivo, porque a estabilidade do setor exige que as unidades que nele operam também sejam estáveis”, disse o governador.
Mário Centeno deu nota na entrevista que, no passado, várias iniciativas de fusões e aquisições no setor acabaram por falhar, uma experiência que não vale a pena repetir.
Em junho, o CEO da empresa estatal Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, disse que o seu banco, o maior de Portugal, estava a ponderar “todas as hipóteses” para comprar outro banco para preservar a sua liderança de mercado face à expansão dos bancos estrangeiros, sobretudo espanhóis.
Na semana passada o Jornal Económico noticiou que ao mesmo tempo que o Novobanco anda em ‘roadshow’ a preparar uma Oferta Pública Inicial (IPO) de 30%, há três bancos a destacarem
equipas internas para avaliar o Novobanco: a CGD, o BCP e o espanhol CaixaBank. Mas o Governo prefere uma solução nacional e terá já dado o recado a Espanha. O interesse do Caixabank no Novobanco parece ser já do conhecimento do Governo português e pode explicar que a CGD esteja a estudar o Novobanco com o aval da tutela.
Centeno diz hoje à Reuters que “a Caixa é um banco muito importante, mas isso também traz responsabilidades. É uma decisão de negócio com consequências sistémicas que devem ser analisadas”.
Centeno quer descida dos juros pelo BCE “mais cedo do que tarde”
Mário Centeno falou ainda de outros temas na entrevista à Reuters, nomeadamente disse que espera que as taxas do BCE desçam para 2% “mais cedo do que tarde”.
O Banco Central Europeu pode precisar de cortar as taxas de juro abaixo de um nível neutro para estimular o crescimento económico, uma vez que a inflação corre o risco de cair abaixo da meta de 2% do banco, disse Mário Centeno à Reuters esta quarta-feira.
“Com as tarifas sobre os produtos europeus ameaçadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, a representarem um risco adicional para o crescimento é bastante claro que precisamos de manter a trajetória das taxas de juro em queda”, disse o governador do Banco de Portugal.
A taxa diretora do BCE, atualmente nos 2,75%, precisa de atingir 2% “mais cedo ou mais tarde” este ano através de novos cortes graduais de 25 pontos base, defendeu.
“Podemos precisar de ficar abaixo do neutro”, disse, acrescentando que, descontando os efeitos de base, a inflação já estaria abaixo dos 2%.
Centeno considera que o BCE pode ter de ficar abaixo do nível neutro — que já não restringe o crescimento económico e que a maioria dos economistas acredita estar entre 1,75% e 2,25%.
“A nossa economia não é suficientemente forte para sustentar uma inflação de 2%. Também precisamos de estabilizar o lado real da economia para que a inflação possa convergir, como está a convergir, para 2% e manter-se nos 2%”.
Mário Centeno culpou a falta de investimento pelo crescimento lento da Europa, bem como a cautela dos consumidores e o facto de as empresas não estarem a obter retornos adequados dos investimentos.
“Os decisores políticos precisavam de encontrar um equilíbrio entre conter as pressões dos custos, aumentar a produtividade e permitir que os salários recuperassem do impacto da inflação nos três anos anteriores”, referiu Mário Centeno à Reuters.
Passando para as tarifas dos EUA, o economista que lidera o banco central considera que estas “não são boas notícias” para todos os envolvidos, mas não descartou algum impacto deflacionista dos produtos chineses serem redireccionados dos Estados Unidos a preços mais competitivos.
“As tarifas na Europa, que é a área mais aberta nas economias modernas de hoje, muito mais aberta do que os EUA, podem ter um impacto bastante grande”, disse.
“Esperamos que, quando chegar a altura de o fazer (negociar), a Europa também se possa mostrar ao mundo como uma frente bastante unida. E precisamos de ver depois de março qual será o resultado das tarifas a nível global”, disse.