Saída dos EUA da OMS fragiliza saúde e pode agravar questões sociais em Angola, alertam investigadores
No artigo assinado por seis investigadores de universidades angolanas e brasileiras na revista científica lembra-se que países como Angola dependem fortemente do apoio da OMS, que lidera iniciativas para combater as doenças transmissíveis, incluindo a malária, o VIH/Sida, tuberculose, e outras ameaças infecciosas emergentes, sendo os Estados Unidos um contribuinte financeiro “substancial”.
A retirada dos EUA da Organização Mundial de Saúde (OMS) traz riscos acrescidos para países como Angola, no sistema de saúde, na deteção de ameaças à saúde e a nível social, alerta-se num artigo publicado na The Lancet.
No artigo assinado por seis investigadores de universidades angolanas e brasileiras na tevista científica lembra-se que países como Angola dependem fortemente do apoio da OMS, que lidera iniciativas para combater as doenças transmissíveis, incluindo a malária, o VIH/Sida, tuberculose, e outras ameaças infecciosas emergentes, sendo os Estados Unidos um contribuinte financeiro “substancial”.
Nos primeiros dias do segundo mandato, o Presidente norte-americano, Donald Trump, suspendeu toda a ajuda internacional durante 90 dias, com exceção dos programas humanitários alimentares e da ajuda militar a Israel e ao Egito, e anunciou a sua retirada da OMS.
Angola foi o segundo país lusófono que mais ajudas recebeu da Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID, em inglês) em 2023, depois de Moçambique, e assinou no ano passado uma nova convenção para o período 2024-2027 que pressupunha um financiamento total de 235 milhões de dólares (226 milhões de euros), com programas direcionados para o combate à malária e melhoria da saúde, além de energia e apoio às mulheres agricultoras.
No artigo, Mauer Gonçalves, Humberto Severin de Morais, Cristiana Furtado, Rafael Lacerda, Júlio Claudino do Santos e Howard Júnior salientam que a retirada dos EUA da OMS compromete o financiamento de vacinas, sistemas de vigilância e outros cuidados essenciais de saúde.
“Uma rutura nestes mecanismos poderia levar a atrasos na resposta durante os surtos, à redução da cobertura de vacinação e ao aumento das taxas de morbilidade e mortalidade”, salientam os académicos, notando a “capacidade limitada” de Angola para gerir de forma independente crises sanitárias complexas.
Além da escassez de recursos nas infraestruturas sanitárias, a capacitação e programas de formação da OMS têm sido essenciais para o reforço da capacidade de vigilância epidemiológica e de resposta.
“Sem este apoio, Angola e outros países semelhantes poderão ter dificuldades em detetar e mitigar eficazmente as ameaças à saúde, o que poderá ter repercussões a nível regional e mundial”, sublinha-se no artigo.
Os investigadores apontam também implicações a nível social, pois uma maior pressão sobre os sistemas de saúde pode agravar a pobreza, devido ao aumento de despesas das famílias, perda de produtividade por motivos de doença e desvio dos rendimentos para os cuidados de saúde, comprometendo a escolaridade.
“Estes desafios combinados correm o risco de aprofundar as desigualdades e comprometer o progresso em direção aos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável na região”, prosseguem, considerando que para Angola, “a consequência imediata é uma lacuna precária no apoio durante uma altura de crescente incerteza na saúde global”.
No artigo, apelam ainda à comunidade internacional, incluindo organizações regionais como a União Africana, para que “se mobilizem para resolver este potencial vazio” e defendem prioridade ao financiamento sustentado e ao apoio técnico às iniciativas da OMS na África Subsariana para salvaguardar a saúde pública e a estabilidade regional.