Sertanejo dá golpe milionário no Spotify

Um músico sertanejo goiano orquestrou um golpe milionário contra o Spotify, um dos serviços de streaming mais populares do mundo. O golpe contava com a utilização de equipamentos tecnológicos para enganar e viciar o algoritmo, roubo de músicas de com...

Jan 27, 2025 - 14:04
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Sertanejo dá golpe milionário no Spotify

Um músico sertanejo goiano orquestrou um golpe milionário contra o Spotify, um dos serviços de streaming mais populares do mundo.

O golpe contava com a utilização de equipamentos tecnológicos para enganar e viciar o algoritmo, roubo de músicas de compositores e artistas, e criação de perfis falsos na plataforma.

Foram criados 209 perfis de sertanejos que nunca existiram, com 444 faixas roubadas e 28 milhões de plays gerados por robôs, rendendo R$ 332 mil em lucro no Spotify e um prejuízo estimado de R$ 6 milhões aos compositores.

O caso estourou no final do ano passado, quando o Ministério Público de Goiás prendeu o autor do golpe, o artista Ronaldo Torres de Souza.

O fraudador montou uma “fazenda” de streamings com vários computadores e um sistema que cria acessos artificiais via robôs, que dão plays e simulam milhares de pessoas ouvindo música sem parar. 

Os equipamentos foram encontrados em uma casa em um condomínio de luxo em Recife.

Ronaldo aperfeiçoou seu estilo. Anteriormente, ele já estava sendo investigado por roubar músicas de compositores e artistas, registrando o conteúdo na plataforma em nome de artistas com perfis falsos, ou seja, artistas que nunca existiram.

O acusado tinha acesso a um grupo de compositores que enviavam trechos de músicas para aprovação de artistas, um procedimento comum na indústria musical.

O truque era que, antes de algum cantor se interessar, Ronaldo, ao invés de comprar, roubava e as publicava no Spotify em nome de centenas de sertanejos falsos. Em alguns casos, as faixas eram criadas por inteligência artificial (IA).

Uma das canções, chamada “Você Anda”, do fakenejo Júnior Kobal, chegou a ter mais de 1 milhão de plays na plataforma. Entre os artistas roubados estava Murilo Huff, que teve músicas usadas sem sua autorização.

Ronaldo chegou a fazer parte do Bonde do Sertanejo, no começo dos anos 2000, e se apresentou no Raul Gil e no Faustão. Depois, formou a dupla Alex e Ronaldo, alcançando certo destaque com a música “Sexta-feira, sua linda”, que viralizou por Neymar e foi elogiada por Gusttavo Lima.

Após uma briga com seu parceiro, seguiu carreira solo sob o codinome Alex Ronaldo. Sem atingir o sucesso esperado na música, partiu para o golpe virtual.

Uma pesquisa realizada pela consultoria canadense Beatdapp estima que cerca de 10% dos plays nos streamings do mundo são feitos por robôs. Essa prática gera um desvio de US$ 2 bilhões de uma receita total de US$ 17 bilhões.

O Ministério Público iniciou a investigação após uma reportagem do UOL sobre denúncias de músicas roubadas e postadas no Spotify. O MP pediu a exclusão de mais de 100 perfis da plataforma, todos falsos e associados a faixas roubadas por Ronaldo.

Ronaldo é acusado de estelionato, falsa identidade e violação de direitos autorais, e assumiu o crime. Durante a investigação, foram apreendidos carros, criptomoedas e outros bens de Ronaldo, avaliados em R$ 2,3 milhões. Esta é a primeira prisão desse tipo no Brasil.

Ainda segundo o UOL, o Spotify informou que os provedores de conteúdo precisam verificar os direitos autorais das músicas entregues à plataforma, e quem se sentir lesado pode preencher um formulário de denúncia disponível no site. SPOTIFY FAZ ALGO PARECIDO

Um aspecto irônico do golpe do brasileiro é que o Spotify está fazendo algo parecido dentro da plataforma de mote próprio.

Uma investigação recente mostrou que a empresa está pagando algumas dezenas de artistas na Suécia para criar música sob vários pseudônimos, visando “encher linguiça’” em listas de músicas, diminuindo por tabela a necessidade de pagar direitos autorais para artistas “de verdade”.

A prática acontece através de um programa chamado de Perfect Fit Content (PFC), por meio do qual o serviço encomenda as faixas e posiciona elas estrategicamente em playlists populares, principalmente naquelas orientadas a servir como background para atividades como estudar ou pegar no sono. 

A prática é rentável para o Spotify porque os produtores desse tipo de música renunciam em contrato a maior parte dos seus direitos autorais, tornando a reprodução muito mais barata do que a de um artista de verdade.