Sissi Freeman: a mulher por trás da revolução da Granado
À frente da equipe de marketing há 21 anos, Sissi Freeman ajudou na criação de produtos e teve papel fundamental na expansão das lojas pelo Brasil e exterior
Aos 14 anos, em 1994, os banheiros da casa de Sissi Freeman ganharam cores e aromas diferentes. O pai, Christopher Freeman, havia acabado de comprar a Granado – a tradicional e centenária marca carioca conhecida à época, principalmente, pelo polvilho antisséptico e por ter sido a preferida da Família Imperial Portuguesa. E, na tentativa de modernizar a marca, a família era a principal cobaia na experimentação dos novos produtos.
“Eu lembro de ir até a loja histórica da rua Primeiro de Março [no centro do Rio de Janeiro], de visitar a fábrica”, relembra Sissi. “Meu pai trabalhava em um banco de investimento, quando o dono da Granado pediu a ele para ajudá-lo a vender a empresa. E ele enxergou uma oportunidade ali, uma marca que, talvez, se bem trabalhada, poderia se transformar em outra coisa. Acabou virando o xodó dele.”
E dela também. Durante a graduação em economia na Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, ela voltava para o Brasil cheia de ideias: velas, esfoliantes e cremes. E o pai viu nela um potencial para cuidar da empresa ao lado dele.
Em 2004, quando adquiriram a marca Phebo, Sissi assumiu a posição de diretora de marketing da marca. A chegada dela aproximou o pai dos funcionários e, juntos, deram início à modernização da Granado.
Revolução Sissi
À frente do marketing, Sissi padronizou as embalagens dos produtos e transformou a experiência dos consumidores. “A ideia era mostrar para o consumidor que a Granado, mesmo naquela época, já tinha uma gama de produtos enormes, e que muitos deles estavam dentro de suas casas, mas às vezes nem percebiam que era a mesma empresa. Porque as embalagens eram todas diferentes umas das outras, as aplicações de logomarca eram diferentes”, explica.
Ela não quis reinventar a marca do zero. Pelo contrário, apostou em fortalecer a identidade vintage da Granado, mesmo com a expansão das lojas – até então, a maior parte das vendas era para o atacado, e a empresa continuava com apenas uma loja própria.
“Quando a gente começou a ver as embalagens e pensar no diferencial da Granado, vimos que o principal era a história única dela. Uma empresa de 155 anos, que foi fornecedora da Família Imperial. Isso tudo é único”, diz.
“Então, até quando decidimos reformar a loja da Primeiro de Março, há uns 18 anos, mantivemos o mobiliário original. E montamos uma trilha sonora inspirada no Rio antigo. A ideia era de fato transportar a pessoa para aquela época. Não era para parecer que estávamos fingindo que somos uma marca tradicional – era para mostrar que temos esse passado!”
A genialidade dos novos produtos surgiu da parceria com o pai e da própria experiência pessoal de Sissi. Ela conta que o pai morre de orgulho de ser o mentor da linha para bebês. Já ela adora contar como criou a linha pink: após passar o dia todo em pé durante um evento em Nova York.
“Eu adoro experimentar e dou muitas ideias, inspiradas pela nossa histórias, ou por viagens, por produtos nossos que vendem muito bem – como a gente consegue expandir aquilo? A linha pink veio disso: temos nosso produto clássico, o talco para os pés, mas é muito para quem usa sapato fechado. Então acaba sendo um produto muito masculino, ou para usar durante a prática de exercícios físicos. A ideia foi criar uma extensão, pensando na mulher”, conta.
“E é engraçado como surgiu. Eu estava fazendo um evento, em Nova York, e a gente acaba ficando o dia inteiro em pé, com o pé latejando ao final do dia. Todo fim de dia era a mesma coisa, corria para a farmácia para ver um creme ou um banho de sal. Quando voltei, eu disse para o pessoal do desenvolvimento: precisamos fazer uma linha de talcos para a mulher que fica em pé o dia todo ou para quem usa sandália aberta. A brasileira é muito vaidosa, cuida das unhas.”
A tradição de levar os produtos experimentais para casa ainda segue a mesma na casa de Sissi. Ela e as três filhas provam todos os produtos antes dos lançamentos oficiais. “Minhas filhas também são cobaias, assim como eu. Infelizmente, a gente às vezes aparece com umas alergias”, brinca.
Um dos grandes orgulhos de Sissi é ter um time cheio de mulheres, principalmente na liderança. “Não é uma realidade na maioria das empresas, infelizmente. Nós temos um baita orgulho disso. Temos vários cases dentro da empresa de mulheres que cresceram profissionalmente aqui. Nossa diretora de varejo começou como vendedora de loja. Temos a chefe de controle de qualidade, e uma funcionária responsável pelo desenvolvimento de produtos. Nossa contadora é mulher, a diretora financeira e de RH também”, comemora.
Expansão da marca
Desde a entrada de Sissi na equipe, a Granado cresceu – e não foi pouco. Em 20 anos, mais de 100 lojas da marca se espalharam pelo Brasil e pelo exterior (três em Londres, três em Paris, uma em Nova York, e uma em Lisboa). Todas elas são lojas-conceito, com a essência que Sissi buscou lá atrás, quando iniciou a expansão: armários e móveis de madeira, luzes baixas e amarelas, pisos de ladrilho, e cartazes antigos.
“Eu aprendi com meu pai que deveríamos fazer devagarinho a abertura das lojas próprias para poder controlar a história e a experiência, ter contato direto com o cliente, para escutá-los e ser mais assertivo nos lançamentos”, explica. “Era uma coisa mais lenta, de paciência, com uma loja por ano. Hoje, temos, em média, de seis a oito novas lojas por ano.”
Sissi conta que eles nem pensavam em abrir lojas no exterior. Até que, oito anos atrás, foram a única marca de cosméticos convidada a participar de um evento sobre o Brasil na Le Bon Marché, loja de departamento em Paris. O sucesso foi tanto que a Granado ganhou uma mini loja lá dentro.
“Lá fora, nós precisamos nos apresentar e as vendas são diferentes também. Aqui, somos conhecidos pelos sabonetes, pelos presentes e, hoje em dia, a categoria de perfumes e colônias têm crescido. No exterior, quase 65% das vendas são fragrâncias.”
A internacionalização da marca também ajudou na criação de novos produtos, que jamais seriam pensados para o público brasileiro – e que depois viraram campeões de vendas.
“Uma perfumista francesa bateu na nossa porta e disse que queria fazer um projeto para nós, um perfume com coco, bem solar. Só que havia uma ideia de que brasileiro não gosta de perfume de coco porque remete a sabão de côco. Bem, ela criou o Bossa, inspirada na praia de Ipanema, e é um grande sucesso”.
A última novidade da marca é a aquisição da Care Natural Beauty, uma marca de beleza ativa natural, criada há seis anos por Patrícia Camargo e Luciana Navarro.
“A história dessa empresa é incrível. Uma das mulheres teve câncer, precisou fazer tratamento e aí descobriu que não podia usar vários produtos, maquiagens, por conta dos ingredientes. Aí elas criaram e lançaram seus próprios produtos. É um novo desafio, com uma marca super complementar à nossa”, finaliza.
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