Tabaqueira: Transformação e sustentabilidade na indústria
Desde 2016, a Tabaqueira tem vindo a transformar-se profundamente, conciliando inovação tecnológica, sustentabilidade e o objectivo de reduzir o impacto da sua actividade no ambiente e na sociedade.
A Tabaqueira posiciona-se como um dos principais motores da transformação do seu sector, integrando inovação, sustentabilidade e uma visão de futuro livre de fumo. Desde 2016, a empresa tem implementado mudanças significativas, assumindo o compromisso de reduzir o impacto ambiental, promover alternativas menos nocivas e consolidar-se como um dos principais exportadores nacionais. Em entrevista à Marketeer, Marcelo Nico, director-geral da Tabaqueira, partilha os progressos alcançados e os desafios enfrentados.
Como avalia os principais progressos já alcançados pela Tabaqueira desde o início do processo de transformação que definiu em 2016?
A Tabaqueira, enquanto filial portuguesa da Philip Morris International (PMI), concretiza aquela que é a mudança transformacional no paradigma do grupo: alcançar um futuro livre de fumo, impactando positivamente a sociedade e o planeta.
Desde 2016, o ano em que a PMI anunciou a sua nova visão de negócio – fazer dos cigarros uma coisa do passado –, que a Tabaqueira foi escolhida para receber alguns dos centros de excelência operacionais do grupo, como, por exemplo, o IT HUB, um centro avançado em tecnologia que desenvolve soluções de software para toda a cadeia de valor do grupo, incluindo para os dispositivos sem combustão da PMI, que se assumem como melhores alternativas aos cigarros, baseadas em evidência científica. À data de hoje, mais de 36,5 milhões de fumadores adultos em todo o mundo já transitaram para estas soluções sem fumo da PMI, comercializadas em mais de 90 mercados.
A localização destes centros operacionais em Portugal, além de permitir criar emprego altamente qualificado, acentua a vocação exportadora da Tabaqueira, que está no Top 10 das maiores exportadoras nacionais. Além da sua fábrica, que exporta 90% da produção ao exterior, estes centros de excelência exportam serviços de elevado valor acrescentado a diversos mercados e regiões da PMI. Em 2023, as exportações da Tabaqueira passaram, pela primeira vez, 800 milhões de euros (atingindo 828 milhões, mais concretamente).
Por outro lado, fruto do investimento da PMI em Portugal, a fábrica da Tabaqueira, localizada em Sintra, é um dos mais avançados centros produtivos do grupo na Europa, ao mesmo tempo que se posiciona como uma das unidades do grupo que mais traduz a sustentabilidade enquanto estratégia, por via da diminuição do seu impacto operacional: é uma das fábricas ponta de lança da PMI, certificadas em neutralidade carbónica.
De que forma a sustentabilidade é integrada no planeamento estratégico de longo prazo da Tabaqueira?
A sustentabilidade está no centro da nossa estratégia. Em todas as decisões de gestão que tomamos, respondemos aos impactos sociais e ambientais dos nossos produtos e das nossas operações. Isto significa que a sustentabilidade está incluída em todas as nossas práticas diárias. Sendo o impacto do consumo de cigarros na saúde, a externalidade negativa mais significativa da nossa actividade, estamos a abordá-la de forma absolutamente estratégica, investindo no desenvolvimento de um portefólio de alternativas menos nocivas, inovadoras e cientificamente fundamentadas. Nesse sentido, na PMI, estabelecemos o objectivo de, em 2030, termos mais de dois terços das nossas receitas líquidas provenientes das alternativas sem combustão. Em Abril de 2024, cerca de 40% das vendas líquidas do grupo já foram originadas nestes novos produtos – numa tendência que espelha também aquilo que se passa em Portugal, onde já existem cerca de 600 mil utilizadores de produtos sem fumo da PMI. Mas a sustentabilidade passa também, naturalmente, pela mitigação dos efeitos ambientais destes produtos, por exemplo, investindo continuamente no CIRCLE, o nosso programa de logística inversa que recicla os materiais de todos os produtos danificados ou em fim de vida e os devolve à economia. Em 2022, a Tabaqueira enviou 13,9 toneladas de resíduos não perigosos de equipamentos e materiais para a reciclagem. Fazemo-lo também ao investir fortemente na eficiência energética das nossas operações e ao trabalharmos para a criação de uma força de trabalho inclusiva e diversa. A sustentabilidade faz parte da nossa estratégia, bem como do nosso plano de longo prazo, porque nos estamos a transformar pela sustentabilidade – com o objectivo de, em 2030, enquanto grupo, sermos um negócio fundamentalmente sem fumo.
Quais são os principais desafios que a Tabaqueira tem vindo a enfrentar no desenvolvimento e na promoção de alternativas sem combustão?
Sem dúvida, o desconhecimento e a desinformação são os principais desafios que temos de ultrapassar relativamente às alternativas sem combustão, fundamentadas cientificamente e menos nocivas face aos cigarros. E tanto o desconhecimento como a desinformação só podem ser combatidos com o acesso a informação – transparente, credível, de base científica –, ao alcance dos fumadores adultos, mas também dos decisores, dos reguladores, da sociedade civil. Estamos comprometidos em investir de forma sustentada em Investigação & Desenvolvimento com foco em produtos sem combustão, cientificamente substanciados como sendo menos nocivos do que os cigarros, que se assumam como verdadeiras alternativas aos cigarros e sejam acessíveis a todos os adultos fumadores que, de outra forma, continuariam a fumar. Desde 2008, a PMI já investiu perto de 12 mil milhões de euros no desenvolvimento, substanciação científica e fabrico de produtos sem fumo.
Como é que os avanços tecnológicos estão a mudar a abordagem da empresa à sustentabilidade e inovação?
Desde 1997, ano da aquisição da Tabaqueira, a PMI já investiu cerca de 418 milhões de euros na operação portuguesa. Estamos a falar de uma média de cerca de 16 milhões de euros por ano. Foi esse, aliás, o valor investido pela PMI ao longo de 2023 na operação da Tabaqueira, principalmente ao nível do incremento da capacidade produtiva instalada, incluindo em equipamento de alta velocidade e automação de processos, através de robotização e integração de soluções de inteligência artificial. A tecnologia de IA e machine learning já se encontram presentes na nossa actividade e estão em fase de crescimento e de aceleração. É uma tecnologia auxiliar que permite maior eficiência, uma maior capacidade de análise e de produção e que nos ajuda a tomar decisões de forma rápida, reduzindo o gap de produtividade. Estamos, aliás, a criar uma equipa dedicada de IA no Centro de Excelência de Tecnologia baseado em Portugal. Somos hoje a “casa” de três Centros Operacionais de Excelência da PMI que, a partir de Portugal, exportam serviços de elevado valor acrescentado para diversos mercados mundiais – um dedicado às operações, outro financeiro (Planning, Budgeting, Forecasting & Report) e um pólo tecnológico (Platform Engineering Hub). Igualmente, a PMI instalou em Portugal diversos Departamentos Globais de Finance, ESG, Marketing & Sales e de Services. Ao todo, estes centros empregam praticamente 400 trabalhadores altamente qualificados – incluindo mais de 200 engenheiros. Esta alteração de paradigma de negócio tem, aliás, sido motor de criação de emprego na Tabaqueira, que, desde 2017, duplicou o número de trabalhadores – e, destes, cerca de 45% têm menos de 35 anos. Isto é trabalhar na sustentabilidade da Tabaqueira, dando-lhe futuro.
A Tabaqueira comprometeu-se a alcançar a neutralidade carbónica até 2025. Vai ser possível cumprir essa meta?
Essa já é uma realidade. Na verdade, a Tabaqueira é uma entre 18 fábricas da PMI a deter a certificação em neutralidade carbónica. Desde 2010, a pegada carbónica da unidade de Albarraque reduziu em 75%, o que nos garantiu a certificação PAS 2060, que assegura a neutralidade carbónica da fábrica (incluindo emissões de CO2 compensadas). De notar que, em pouco mais de 25 anos, a fábrica de Albarraque tornou- -se num dos principais centros produtivos da PMI na Europa, enquanto fez um caminho extraordinário de descarbonização da sua operação fabril. Uma grande parte do investimento da PMI na operação portuguesa – mais de 418 milhões de euros, desde 1997 – tem sido dirigida para a promoção da eficiência energética e para a transição para as energias renováveis, através da aplicação de Tecnologias Zero Carbono, incluindo a robotização de processos e a aplicação de inteligência artificial.
Como é que a Tabaqueira está a abordar a gestão de recursos hídricos, considerando a sua recertificação pela Alliance For Water Stewardship?
A água é um bem precioso e a Tabaqueira está comprometida com a sua gestão responsável. Desde 2010 face a 2023, reduzimos em 47% o consumo específico de água e fomos a primeira fábrica em Portugal a ser certificada pela AWS – Alliance for Water Stewardship.
A reciclagem de resíduos é uma das áreas em que a Tabaqueira tem melhores resultados. Que estratégias têm permitido alcançar mais de 99% de reciclagem e valorização?
Na PMI, seguimos o princípio da hierarquia de resíduos: reduzir, reutilizar, reciclar e, quando é esta a melhor opção disponível, o encaminhamento para incineração, minimizando as deposições em aterro. Na Tabaqueira estamos alinhados com essas directrizes, procurando sempre que possível converter resíduos do processo produtivo em matérias-primas de forma eficiente, aplicando as opções mais sustentáveis de tratamento. Damos especial atenção aos fluxos de resíduos mais importantes como tabaco, papel, cartão, fibra de acetato de celulose e resíduos perigosos. Além de optimizar processos para reduzir desperdícios, priorizamos a reutilização e doação de materiais. Em 2022, iniciamos um piloto para reaproveitar caixas de papelão usadas na fábrica. Destaco particularmente as acções de reciclagem e valorização que são realizadas com excelência, sendo que, actualmente, representam mais de 99% dos resíduos gerados pela fábrica. Menos de 1% segue para aterro. Quando não é possível reciclar, procuramos utilizar os resíduos para recuperação energética.
Como pode a Tabaqueira influenciar outras empresas do sector a adoptar práticas mais sustentáveis?
Ao ganharmos experiência nas diversas frentes em que actuamos – ao procurarmos responder e mitigar os impactos sociais e ambientais, quer dos nossos produtos, quer das nossas operações. Naturalmente que temos vindo a coleccionar muito know-how e que estamos muito motivados para trabalhar. E fazemo-lo todos os dias no contacto com os nossos parceiros de negócio. Por exemplo, como afirmei acima, o objectivo da PMI é tornar, até 2040, a sua cadeia de valor neutra em emissões carbónicas. Estamos a falar de emissões de escopo 3, que dependem dos diversos agentes ao longo de toda a cadeia. Isto implica que eles, tal como nós, se transformem através da sustentabilidade e pela sustentabilidade. Para que isso seja possível – e em muitos casos estamos a falar de pequenas empresas que têm menor capacidade de inovação –, temos naturalmente de ser os mobilizadores da mudança, partilhar boas práticas, ajudar a orientar prioridades e investimentos. No fundo, temos de construir estratégias juntos. É isso que procuramos fazer todos os dias. Para responder à sua questão: não só podemos influenciar como temos obrigatoriamente de o fazer, isto se quisermos concretizar a 100% a nossa ambição e transformação. E, por isso, vemo-nos como um pivô fundamental de partilha de conhecimento para o sector.
De que forma os colaboradores da Tabaqueira estão a ser incentivados a integrar a sustentabilidade no seu dia-a-dia?
A existência de uma cultura organizacional diversificada que promove a equidade e a inclusão, que proporciona acesso à aprendizagem ao longo da vida a todos os nossos funcionários, que inclui a representação local e de género na gestão a nível global, contribui de forma determinante para conseguirmos responder aos desafios disruptivos desta indústria e desta empresa em particular, ao mesmo tempo que conseguimos que os nossos trabalhadores abracem o propósito da companhia. A Tabaqueira emprega, actualmente, cerca de 1500 pessoas – número que mais que duplicou desde 2017 –, cerca de metade desta força de trabalho tem menos de 35 anos e 10% são estrangeiros altamente qualificados. Orgulho-me de dizer que a Tabaqueira é certificada em igualdade salarial pela Equal-Salary Foundation, que garante que homens e mulheres, nos mesmos cargos, são remunerados da mesma forma; e 48% dos cargos de gestão são ocupados por mulheres. Na Tabaqueira, cruzam-se diariamente quase 40 nacionalidades e falam-se 20 idiomas. Defendemos, assim, a existência de um ambiente laboral diverso, equitativo e inclusivo, que empodera as nossas pessoas.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Sustentabilidade e responsabilidade social”, publicado na edição de Dezembro (n.º 341) da Marketeer.