Viagens a Marte podem prejudicar a visão dos astronautas

Pesquisa aponta que 70% dos astronautas que passaram de seis a 12 meses na estação espacial tiveram alterações visuais significativas O post Viagens a Marte podem prejudicar a visão dos astronautas apareceu primeiro em Olhar Digital.

Fev 5, 2025 - 21:23
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Viagens a Marte podem prejudicar a visão dos astronautas

Missões espaciais prolongadas, como as planejadas para Marte, podem trazer desafios para a saúde dos astronautas. Um estudo recente publicado no Journal of Engineering in Medicine and Biology, por exemplo, revelou que cerca de 70% das pessoas que passaram entre seis meses e um ano na Estação Espacial Internacional (ISS) apresentaram mudanças significativas na visão. 

Conhecido como síndrome neuroocular associada a voos espaciais (SANS), o problema resulta do deslocamento de fluidos corporais na microgravidade, pressionando o nervo óptico e alterando a forma dos olhos.

Karen Nyberg, astronauta da NASA, fotografa seu olho com um fundoscópio (instrumento usado para examinar a parte interna do globo ocular) a bordo da Estação Espacial Internacional em 2013. Crédito: NASA

A condição foi identificada pela NASA em 2011, após relatos de distorções visuais durante e após missões espaciais. Os sintomas incluem inchaço do nervo óptico, achatamento do fundo do olho e dificuldades no foco visual. 

Embora muitas dessas alterações sejam reversíveis ao retornar à Terra, os efeitos de longas permanências no espaço ainda não são totalmente compreendidos. Isso representa um desafio para missões de exploração profunda, que exigem soluções preventivas para evitar danos permanentes à visão.

O impacto da microgravidade nos olhos dos astronautas

A principal hipótese para a SANS envolve o deslocamento dos fluidos corporais na ausência de gravidade. Na Terra, a gravidade mantém esses fluidos distribuídos de forma equilibrada no corpo, mas no espaço, eles tendem a se acumular na parte superior do corpo e na cabeça, aumentando a pressão nos olhos e no cérebro. Isso pode levar a mudanças na estrutura ocular, comprometendo a visão.

Um dos primeiros registros da síndrome foi observado em cosmonautas russos que participaram de missões na antiga estação espacial Mir. Desde então, pesquisadores vêm estudando seus efeitos e possíveis formas de mitigação.

Comparação pré-voo espacial (imagens na linha superior) e 30 dias antes do retorno (na linha inferior) na tomografia de coerência óptica com R-30 mostrando rugas peripapilares, pregas coroidais e edema do disco óptico. Crédito: NASA.

No estudo mais recente, uma equipe liderada por Santiago Costantino, da Université de Montréal, analisou dados de 13 astronautas que passaram cerca de seis meses na ISS. O grupo, com média de idade de 48 anos, incluía homens e mulheres dos EUA, Europa, Japão e Canadá. Os cientistas mediram três aspectos fundamentais antes e depois da missão: rigidez ocular, pressão intraocular e variação da pressão ocular a cada batimento cardíaco.

Os resultados indicaram uma queda de 33% na rigidez ocular, uma redução de 11% na pressão intraocular e uma diminuição de 25% na variação da pressão ocular. Além disso, cinco astronautas apresentaram espessamento significativo na coroide, a camada vascular do olho.

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Buscando soluções para futuras missões a Marte

O estudo reforça a urgência de desenvolver contramedidas para a SANS. Entre as abordagens investigadas estão intervenções farmacêuticas, ajustes na dieta dos astronautas e o uso de dispositivos que simulam pressão gravitacional na parte inferior do corpo, ajudando a redistribuir os fluidos.

“Ao compreender melhor as alterações biomecânicas nos olhos, podemos identificar astronautas com maior risco de desenvolver problemas oculares e criar estratégias para protegê-los”, explicou Costantino em um comunicado.

Com o avanço das pesquisas, as agências espaciais esperam encontrar soluções que garantam a segurança dos astronautas em missões de longa duração, como as de Marte, permitindo que explorações além da órbita terrestre sejam viáveis sem comprometer a saúde visual da tripulação.

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