Confiar ou desconfiar?
Em vez de se fecharem sobre si próprios e sobre os seus modelos de negócio pré-determinados, os CEO parecem ter ganho uma nova energia e uma capacidade de colocar em perspetiva todas as tendências que nos abalroam no dia a dia.
Se a 7 de fevereiro o Jornal Económico me tivesse desafiado a escolher a palavra que vai marcar o ano de 2025, diria já, sem hesitar: desconfiança! Com a economia a desacelerar nos dois hemisférios, a Europa a perder gás, a persistente guerra na Ucrânia após a invasão russa, a instabilidade no Médio Oriente e também nos Estados Unidos, desde a eleição presidencial, instalou-se a instabilidade, indecisão e hesitação em vários contextos dos negócios.
No mercado global, sobretudo em matérias que envolvem decisões de políticas públicas, a dúvida e inação tende a agravar-se. Por cá, os analistas económicos e políticos já estão de olhos postos no próximo Orçamento Geral do Estado e na instabilidade, ou não, que esse momento crucial pode trazer ao país. Portanto, vive-se um período de ‘esperar para ver’.
Ainda assim, e voltando a olhar para o mercado global, três em cada quatro CEO afirmam estar confiantes no crescimento das suas empresas ao longo de 2025. Mas, afinal, o que os leva a acreditar e em que temas estarão a pensar?
Nove em cada dez líderes consideram que todas as tendências – políticas, geoestratégicas, ambientais, tecnológicas e económicas –, são muito importantes ou críticas para repensar a sua abordagem à transformação das suas organizações. Cerca de 70% dos CEO mais confiantes estão focados em prosseguir atividades de fusões e aquisições (M&A) nos próximos 12 meses. Estas são conclusões do mais recente estudo CEO Outlook Survey da EY Parthenon.
Em suma, sabem que a mudança nunca dorme, tal como não é possível parar o vento com as mãos, mas estão resilientes e acreditam no mercado. Olhando para dentro das suas empresas, acreditam que a transformação corporativa nunca deve parar e, apesar da incerteza, esse comboio da mudança vai continuar a acelerar nos carris.
Os CEO mais otimistas reconhecem esta realidade e estão dispostos a ajustar, com precisão, os seus radares de risco para compreender cada fenómeno que possa vir a ter uma maior probabilidade de desafiar os seus modelos de negócio, as suas ortodoxias empresariais. Apesar de todo o contexto, no mesmo estudo mostram-se preparados para agir com ousadia para contornar quaisquer obstáculos que surjam no caminho.
Os resultados são surpreendentes. Talvez a pandemia tenha reforçado a couraça dos CEO ouvidos no inquérito. Afinal, depois de um shut down total da economia e das empresas por causa da Covid-19, do efeito que isso teve nas cadeias de supply chain e no custo das matérias primas, fretes e transportes em geral; após o eclodir da guerra na Ucrânia que fez disparar mais custos de outras matérias-primas e de um conflito no Médio Oriente cujas réplicas poderiam ter sido ainda piores em termos de mercado; até parece que, aos olhos de hoje, os desafios que se agigantam pela frente já não assustam os líderes.
Em vez de se fecharem sobre si próprios e sobre os seus modelos de negócio pré-determinados, os CEO parecem ter ganho uma nova energia e uma capacidade de colocar em perspetiva todas as tendências que nos abalroam no dia a dia. Não podendo mudar o mundo, talvez acreditem que o melhor é mesmo moldá-lo com a máxima confiança, contrariando a tal desconfiança e destronando-a do pedestal de “palavra do ano em 2025”.