Funcionários públicos em Goiás faziam cursos online sem aulas para conseguir aumento salarial, revela investigação

A fraude veio à tona em Perolândia, interior de Goiás. O objetivo dos servidores era ganhar uma gratificação de até 30% nos salários. Investigação revela que funcionários públicos em Goiás faziam cursos online sem aulas para conseguir aumento salarial Uma investigação revelou um esquema envolvendo cursos 100% on-line e livres, sem aulas e nem professores. As instituições ofereciam diplomas, com apenas uma prova que poderia ser feita em poucos minutos. Veja no vídeo acima. A fraude veio à tona em Perolândia, interior de Goiás, após 67 dos 114 funcionários públicos da prefeitura apresentarem certificados de diversos cursos livres, com o total de horas suficientes para receber um aumento salarial. O objetivo dos servidores era ganhar uma gratificação de até 30% nos salários. De acordo com o estatuto do funcionalismo do município de Perolândia, essa gratificação é progressiva, começando em 5% para quem apresenta diploma com 180 horas de curso, chegando até 30% para quem fizesse cursos com mais de mil horas de duração. Duas servidoras públicas, que pediram para não serem identificadas, começaram a desconfiar. “O que nos chamou atenção foi a quantidade de diplomas protocolados, mais ainda por ser da mesma instituição de ensino, né? Um ou outro me pediu tipo, quantas horas eu preciso fazer para ganhar 30%, que é o máximo que a gente paga. 'Ah, 1080 horas'. Aí, tipo, me pedia hoje, amanhã chegava com os certificados. Falei, tem alguma coisa errada aí”, conta. Diante da desconfiança sobre a legalidade dos certificados, o Ministério Público chamou para depor alguns servidores que fizeram os cursos. O Fantástico não os identificou porque, para o MP, eles ainda não são considerados suspeitos. "A maioria dos funcionários tinha feito, né? Aí eu falei, eu vou fazer também, né? Todo mundo fez. Eu pensei assim, para mim é uma chance, né, de ter um aumentinho, né? Mas não foi assim, de má fé", diz uma funcionária pública. Ficou clara a facilidade para realizar os cursos, que custavam cerca de R$ 25 cada um. Promotor: O senhor não chegou nem a ler a apostila? Funcionário: Não, nem sei mexer em computador. Promotor: Você não chegou a fazer aula, né? Funcionário: Não, só a prova mesmo. Fiz quatro cursos. Investigação revela que funcionários públicos em Goiás faziam cursos online sem aulas para conseguir aumento salarial Reprodução/TV Globo Diplomas em poucos minutos Curso de 272 horas é realizado em 13 minutos Reprodução/TV Globo Um agente do serviço de inteligência do Ministério Público, usando nome falso, se matriculou e concluiu rapidamente dois cursos on-line em uma das escolas investigadas. "O primeiro curso que eu fiz foi de 13 minutos, equivalente a 272 horas, e o outro curso foi de 260 horas. Eu terminei, entre a escolha do curso, a inscrição no curso e a finalização do curso com a prova, eu demorei 18 minutos", relata o agente. "Todos nós, os nossos familiares, quando precisam de serviços médicos, esperam que existam pessoas qualificadas e não que tiraram diplomas em poucos minutos. Isso é um absurdo e isso coloca em risco a vida das pessoas, porque nós temos profissionais desqualificados com diplomas que não existem na realidade", ressalta o promotor Fabrício Lamas. Investigações e prisões Investigação revela fraudes de escolas online que ofereciam cursos livres Reprodução/TV Globo As investigações avançaram e os promotores descobriram um esquema de confecção de certificados e carteirinhas de estudantes falsos que eram vendidos para todo Brasil. Quatro pessoas foram presas, a quase 1.500 quilômetros de Perolândia, em São Lourenço, Minas Gerais, onde funcionavam as escolas de cursos on-line Escon e Fajon. João Renato Antunes de Andrade, Mônica Renata da Silva e os irmãos Fernando e Adriano Fonseca Santos são suspeitos de organização criminosa, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. De acordo com o Ministério Público, de 2020 a 2023, os investigados ganharam mais de 17 milhões de reais com os cursos on-line. Os promotores suspeitam que parte desse montante, cerca de 4 milhões de reais, era lavado em uma fábrica de embalagem de papéis, que pertence ao mesmo grupo. Assim, a organização criminosa conseguia legalizar parte do dinheiro obtido com a venda das carteirinhas de estudante e dos certificados falsos. A defesa dos presos diz que as escolas não cometeram nenhum crime e responsabilizou os estudantes e as entidades que valorizam esses cursos, mais do que eles representam de verdade. O Ministério da Educação disse em nota que "as pessoas interessadas em obter diplomas em cursos específicos devem consultar os canais oficiais para verificar se o curso é devidamente credenciado, para que o diploma expedido tenha validade". "A mesma orientação vale para prefeituras ou outros órgãos que utilizam os diplomas de seus funcionários para fins de progressão ou processo seletivo". A Secretaria de Educação de Minas Gerais também se manifestou em nota dizendo que... "A educação não formal, de liv

Fev 7, 2025 - 10:55
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Funcionários públicos em Goiás faziam cursos online sem aulas para conseguir aumento salarial, revela investigação

A fraude veio à tona em Perolândia, interior de Goiás. O objetivo dos servidores era ganhar uma gratificação de até 30% nos salários. Investigação revela que funcionários públicos em Goiás faziam cursos online sem aulas para conseguir aumento salarial Uma investigação revelou um esquema envolvendo cursos 100% on-line e livres, sem aulas e nem professores. As instituições ofereciam diplomas, com apenas uma prova que poderia ser feita em poucos minutos. Veja no vídeo acima. A fraude veio à tona em Perolândia, interior de Goiás, após 67 dos 114 funcionários públicos da prefeitura apresentarem certificados de diversos cursos livres, com o total de horas suficientes para receber um aumento salarial. O objetivo dos servidores era ganhar uma gratificação de até 30% nos salários. De acordo com o estatuto do funcionalismo do município de Perolândia, essa gratificação é progressiva, começando em 5% para quem apresenta diploma com 180 horas de curso, chegando até 30% para quem fizesse cursos com mais de mil horas de duração. Duas servidoras públicas, que pediram para não serem identificadas, começaram a desconfiar. “O que nos chamou atenção foi a quantidade de diplomas protocolados, mais ainda por ser da mesma instituição de ensino, né? Um ou outro me pediu tipo, quantas horas eu preciso fazer para ganhar 30%, que é o máximo que a gente paga. 'Ah, 1080 horas'. Aí, tipo, me pedia hoje, amanhã chegava com os certificados. Falei, tem alguma coisa errada aí”, conta. Diante da desconfiança sobre a legalidade dos certificados, o Ministério Público chamou para depor alguns servidores que fizeram os cursos. O Fantástico não os identificou porque, para o MP, eles ainda não são considerados suspeitos. "A maioria dos funcionários tinha feito, né? Aí eu falei, eu vou fazer também, né? Todo mundo fez. Eu pensei assim, para mim é uma chance, né, de ter um aumentinho, né? Mas não foi assim, de má fé", diz uma funcionária pública. Ficou clara a facilidade para realizar os cursos, que custavam cerca de R$ 25 cada um. Promotor: O senhor não chegou nem a ler a apostila? Funcionário: Não, nem sei mexer em computador. Promotor: Você não chegou a fazer aula, né? Funcionário: Não, só a prova mesmo. Fiz quatro cursos. Investigação revela que funcionários públicos em Goiás faziam cursos online sem aulas para conseguir aumento salarial Reprodução/TV Globo Diplomas em poucos minutos Curso de 272 horas é realizado em 13 minutos Reprodução/TV Globo Um agente do serviço de inteligência do Ministério Público, usando nome falso, se matriculou e concluiu rapidamente dois cursos on-line em uma das escolas investigadas. "O primeiro curso que eu fiz foi de 13 minutos, equivalente a 272 horas, e o outro curso foi de 260 horas. Eu terminei, entre a escolha do curso, a inscrição no curso e a finalização do curso com a prova, eu demorei 18 minutos", relata o agente. "Todos nós, os nossos familiares, quando precisam de serviços médicos, esperam que existam pessoas qualificadas e não que tiraram diplomas em poucos minutos. Isso é um absurdo e isso coloca em risco a vida das pessoas, porque nós temos profissionais desqualificados com diplomas que não existem na realidade", ressalta o promotor Fabrício Lamas. Investigações e prisões Investigação revela fraudes de escolas online que ofereciam cursos livres Reprodução/TV Globo As investigações avançaram e os promotores descobriram um esquema de confecção de certificados e carteirinhas de estudantes falsos que eram vendidos para todo Brasil. Quatro pessoas foram presas, a quase 1.500 quilômetros de Perolândia, em São Lourenço, Minas Gerais, onde funcionavam as escolas de cursos on-line Escon e Fajon. João Renato Antunes de Andrade, Mônica Renata da Silva e os irmãos Fernando e Adriano Fonseca Santos são suspeitos de organização criminosa, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. De acordo com o Ministério Público, de 2020 a 2023, os investigados ganharam mais de 17 milhões de reais com os cursos on-line. Os promotores suspeitam que parte desse montante, cerca de 4 milhões de reais, era lavado em uma fábrica de embalagem de papéis, que pertence ao mesmo grupo. Assim, a organização criminosa conseguia legalizar parte do dinheiro obtido com a venda das carteirinhas de estudante e dos certificados falsos. A defesa dos presos diz que as escolas não cometeram nenhum crime e responsabilizou os estudantes e as entidades que valorizam esses cursos, mais do que eles representam de verdade. O Ministério da Educação disse em nota que "as pessoas interessadas em obter diplomas em cursos específicos devem consultar os canais oficiais para verificar se o curso é devidamente credenciado, para que o diploma expedido tenha validade". "A mesma orientação vale para prefeituras ou outros órgãos que utilizam os diplomas de seus funcionários para fins de progressão ou processo seletivo". A Secretaria de Educação de Minas Gerais também se manifestou em nota dizendo que... "A educação não formal, de livre oferta, não requer credenciamento ou autorização para funcionamento, mas não pode emitir diplomas conferindo grau de escolaridade, nem dão direito ao prosseguimento de estudos ou habilitação profissional". Embora os servidores da prefeitura de Perolândia não sejam investigados, a prefeita disse que vai suspender o pagamento das gratificações. O próximo passo dos promotores é identificar e separar todos os certificados e carteirinhas apreendidos e encaminhar esse material para o Ministério Público de cada estado para que as investigações continuem. Veja a reportagem completa abaixo: Quatro pessoas são presas pela venda de 50 mil diplomas falsos e milhares de carteirinhas Ouça os podcasts do Fantástico ISSO É FANTÁSTICO O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1, Globoplay, Deezer, Spotify, Google Podcasts, Apple Podcasts e Amazon Music trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo. PRAZER, RENATA O podcast 'Prazer, Renata' está disponível no g1, no Globoplay, no Deezer, no Spotify, no Google Podcasts, no Apple Podcasts, na Amazon Music ou no seu aplicativo favorito. 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